Gráfico traz empresas muito conectadas
em vermelho, e superconectadas, em amarelo (Foto: PloS ONE)
A pesquisa, feita por especialistas do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, com sede em Zurique, e que será publicada na revista científica PloS ONE, usou métodos de análise de sistemas complexos para estudar 43.060 multinacionais, a partir de uma base de dados de 37 milhões de empresas e investidores de todo o mundo, datada de 2007
Das corporações estudadas, os cientistas criaram um modelo a partir das participações acionárias das empresas entre si, somadas a seus lucros operacionais. Assim, os pesquisadores chegaram a um "núcleo" de 1.318 corporações que possuem no mínimo duas outras - embora elas tivessem, em média, elos com 20 outras empresas.
Essa rede de
1.318 companhias, de acordo com a pesquisa, possuía a
maior parte das ações de empresas de alta confiabilidade e lucratividade (conhecidas como ações blue chip) e de manufatura do mundo, que
representam cerca de 60% dos lucros operacionais globais.
A maioria das corporações que compõem este grupo é
formada por bancos. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha são os países com o maior número de empresas nesta lista, seguidos por França, Espanha e Itália.
O banco Bradesco é a única empresa brasileira que está neste núcleo
Rede restrita de corporações
Ao
estreitar ainda mais a rede de propriedade das corporações, os cientistas
encontraram uma "superentidade" formada por 147 empresas que possuem parte ou a totalidade da propriedade umas das outras. Segundo o estudo, esta "superentidade", embora
represente menos de 1% das multinacionais do mundo,
comanda 40% da riqueza gerada pelas outras 42.913.
A exemplo do grupo mais amplo, esta rede "superexclusiva"
é formada, em sua maioria, por instituições financeiras. Entre as 20 corporações mais poderosas desta relação estão o banco britânico Barclays (em primeiro lugar) e os bancos americanos JPMorgan Chase e Goldman Sachs.
Pelo fato de a pesquisa ter usado
dados de 2007, a instituição financeira
americana Lehman Bros., cuja falência acabou dando início à crise mundial de 2008, aparece em 34º lugar entre as corporações mais poderosas da "superentidade".
Riscos à estabilidade
De acordo com o economista John Driffill, da Universidade de Londres,
este estudo é o primeiro a identificar empiricamente
algo há muito debatido, que é a
rede de poder formada por um
grupo razoavelmente pequeno de grandes corporações transnacionais.
Segundo ele, no entanto, a
importância do estudo não reside tanto no fato de verificar a existência de uma "superentidade" que comanda a economia no mundo, e sim em trazer novas ideias sobre os
riscos à estabilidade financeira global, com base na interdependência entre as corporações.
"O problema na Europa hoje é que todos os bancos que possuem parte da dívida grega e espanhola fizeram empréstimos entre si, então
se um deles quebrar, todos os outros quebrarão. São ligações como essas que fizeram com que a quebra do Lehman Bros. em 2008 se tornasse um desastre global", disse Driffill à BBC Brasil.
O estudo foi divulgado depois que ativistas em todo o mundo realizaram ocupações e protestaram contra as grandes corporações e os cortes de gastos públicos.
Driffill afirma, no entanto, que o fato da economia global ser comandada por uma rede limitada de empresas não é algo intencional ou planejado, e sim um movimento espontâneo.
"Este é um grupo grande, formado por mais de cem empresas, com interesses bastante diversos entre si. Não é possível que elas estejam de alguma forma conspirando", afirma.
As 20 maiores corporações "superconectadas"
1. Barclays (Grã-Bretanha)
2. Capital Group Companies (EUA)
3. FMR Corporation (EUA)
4. AXA (França)
5. State Street Corporation (EUA)
6. JP Morgan Chase (EUA)
7. Legal & General Group (Grã-Bretanha)
8. Vanguard Group (EUA)
9. UBS (Suíça)
10. Merrill Lynch (EUA)
11. Wellington Management (EUA)
12. Deutsche Bank (Alemanha)
13. Franklin Resources (EUA)
14. Credit Suisse (Suíça)
15. Walton Enterprises (Grã-Bretanha)
16. Bank of New York Mellon Corp (EUA)
17. Natixis (França)
18. Goldman Sachs (EUA)
19. T Rowe Price Group (EUA)
20. Legg Mason (EUA)
Fonte: PloS ONE
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