Ninguém segura essas babás. Em nome da confiança, elas exigem o céu para cuidar das crianças pequenas dentro de casa, enquanto os pais trabalham fora. Segundo as agências especializadas, o salário da categoria chega às alturas, podendo variar de R$ 900 a até mais de R$ 4 mil. As exigências não param por aí. Elas raramente dormem no serviço, barganham trabalhar no sábado e outras tiram a tarde de folga para ir ao salão de beleza, fazer ginástica e frequentar o shopping center. Mais conhecida como Rose, a babá Rosimeire Lopes Nogueira, de 41 anos, ganha R$ 2,2 mil para trabalhar de terça-feira a sexta-feira em um luxuoso condomínio fechado em Nova Lima, nos arredores de Belo Horizonte. “Ser babá sempre foi o sonho da minha vida”, confessa ela, dona de um Citroen Xsara Picasso 2009, carro melhor que o da maioria das patroas de classe média.
“Tenho direito a ter o meu conforto, pois tenho o meu salário e o do meu marido”, lembra a superbabá. Na compra do Xsara, Rose deu de entrada o Fiat Uno e paga sozinha as prestações de R$ 499 mensais. Entre suas atribuições, olha Valentina, de 5 anos, e Manuela, de 3. Quando nasceu Isabela, hoje com 1 ano e três meses, a mãe contratou outra babá para ajudar, fora a folguista de fim de semana. “É uma verdadeira empresa”, explica a advogada Juliana Junqueira, sócia do escritório Sacha Calmon e Misabel Derzi Associados. Ela calcula ter um gasto de cerca de R$ 5 mil apenas com o pagamento das babás. “Pago o preço de mercado, pois se trata da coisa mais preciosa da minha vida”, completa.
Segundo as agências especializadas, a remuneração da categoria pode atingir, porém, o teto de sete salários mínimos (R$ 3.815), fora a passagem, caso das enfermeiras com turno de 24 horas. O valor supera os R$ 3.031 recebidos em média pelas pessoas com curso superior completo na Região Metropolitana de Belo Horizonte, segundo o último dado anual da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), de 2010, da Fundação João Pinheiro e do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
“Trata-se de algo que já ocorreu nos países desenvolvidos e que começa a acontecer aqui no Brasil. A babá começa a virar artigo de luxo voltado só para o segmento mais abastado da sociedade”, compara o pesquisador Mário Rodarte, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e consultor do Dieese. Segundo ele, a profissão foi valorizada pela falta de mão de obra no mercado, já que as profissionais foram atraídas para outras atividades similares do setor de serviços, como arrumadeiras nos hotéis ou cozinheiras em restaurantes. “Além disso, as babás envelheceram e acabou o costume de trazer uma menina nova do interior para treinar como babá, o que ficou caracterizado como trabalho infantil. Isso representa um avanço”, explica.
Com diploma de auxiliar de enfermagem ou de socorrista, a chamada enfermeira geralmente presta assistência dia e noite às mamães de primeira viagem que acabaram de ter seus nenens. Como já trabalhou em hospitais e até em maternidades, ela inspira total confiança aos pais e ajuda bastante nos três primeiros meses de vida da criança, especialmente nos episódios de cólica e nas noites insones dos bebezinhos. Mas nem sempre os patrões conseguem se desligar logo do atendimento VIP prestado pelas superbabás. “A Marinês veio para ficar três meses e está aqui até hoje, oito anos depois. A Bruna já é uma criança independente, não precisa mais de babá, mas ela se tornou a governanta da casa, nosso braço direito”, argumenta a engenheira Norma Lúcia Morton de Freitas, de 50 anos, proprietária de empresa no segmento de peças para carretas.
Aos 8 anos, Bruna chama carinhosamente a babá de vovó. Somente no ano passado, Marinês Novaes, de 64 anos, deixou de dormir no mesmo quarto que a criança, a quem se dedica em tempo integral. Leva e busca na aula, no inglês, na natação. Organiza as festas de aniversário da menina, almoços-surpresa para a mãe e, na semana passada, deu um pulo no centro para comprar o vestido novo de festa junina da Bruna. Em contrapartida, a babá faz hidroginástica e fisioterapia duas vezes por semana, trabalha de segunda-feira às 9h de sábado e ganha em torno de R$ 3,8 mil mensais. “Cerca de 90% das babás trabalham por dinheiro e não por amor. Eu não. Eu me entrego por inteiro e assessoro toda a família”, diz Marinês, que fez curso de enfermagem pela Cruz Vermelha, com duração de três anos.
Patroas fazem concessões
As vantagens obtidas nas negociações com as patroas são ilimitadas. Maria da Consolação de Sousa, de 57 anos, mais conhecida como Didi, fez um acordo para abrir mão de um salário acima de R$ 4 mil e retornar ao antigo emprego, onde as crianças estavam sentindo a sua falta. Para voltar à função, negociou trabalhar somente meio período, de segunda-feira a sábado, com salário reduzido a três mínimos e meio. Além disso, tem permissão para sair para dançar e fazer hidroginástica. “Não queria mais me doar 24 horas. Fiz uma opção por melhor qualidade de vida. O acordo foi bom para as duas partes”, diz. “Dei sorte com a Didi”, acredita a empresária Carol Borges, de 31 anos, que enfrentou 10 meses sem a babá de Manuela, de 6, e Ana Luiza, de 3.
Didi reconhece estar “deslumbrada” com a condição alcançada na condição de babá. Nas tardes livres, faz questão de frequentar o shopping do São Bento e salão que atende madames do bairro. “Eu me considero uma superbabá. Tenho um status que nenhuma profissão poderia me proporcionar”, conclui.
Do Estado de Minas
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