Eletricidade produzida em usinas de açúcar pouparia 5% dos reservatórios.
Represas do Sudeste registraram nível mais abaixo nos últimos 10 anos.
Apesar
do aumento de 0,37% no nível dos reservatórios das regiões Sudeste e
Centro-Oeste registrado pela Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) no
último final de semana e da negativa do Governo Federal sobre um risco de
apagão, especialistas do setor sucroalcooleiro afirmam que a energia elétrica
produzida através do bagaço da cana-de-açúcar poderia poupar até 5% das
represas no período mais crítico da estiagem, evitando o risco de racionamento.
O diretor da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Única),
Sérgio Prado, explica que a época da seca - entre abril e novembro - acontece
justamente no período em que as usinas de São Paulo e Minas Gerais estão moendo a cana para produzir
açúcar e etanol e, consequentemente, gerando energia elétrica através da queima
do bagaço.
“Poderíamos
economizar água no momento em que estamos processando a cana. Ninguém tem a
pretensão de achar que a energia da biomassa será dominante no país. O caso não
é esse, mas temos condições de produzir um volume considerável de
eletricidade”, diz.
Segundo dados da Unica, todas as 440 usinas do Brasil já
utilizam o recurso para abastecer as próprias unidades e não precisam comprar eletricidade de concessionárias
para funcionar. O problema é que a falta de investimento público faz com que
apenas 90 consigam vender o excedente para o sistema nacional.
“Mesmo assim, o que é vendido representa 5% do total consumido
no país. Em plena capacidade de produção, todas as usinas juntas poderiam gerar
15.300 megawatts (MW), o equivalente a pouco mais de uma Itaipu”, afirma Prado.
Mais barato
O engenheiro
eletricista Arthur Padovani, especialista em sistemas de cogeração de biomassa
pela Universidade de São Paulo (USP), afirma que a alternativa teria reflexos
positivos inclusive no preço para o consumidor final, porque os custos para geração de energia a partir do bagaço da
cana são mais competitivos. Segundo ele, um quilowatt/hora (KW/h) instalado
produzido pela biomassa custa, em média, R$ 3,5 mil. No caso da energia
hidráulica, esse valor é de R$ 7,5 mil por KW/h.
“A
cogeração tem custo bastante baixo de insumo porque, como o próprio nome diz, é
uma consequência da produção do açúcar e do etanol”, explica o engenheiro,
destacando que o tempo de implantação de uma hidrelétrica também é dez vezes
maior. “Vejamos o exemplo de Belo Monte, que
até hoje enfrenta impasses. Um sistema de uma usina de açúcar é implantado em
dois anos.”
Concorrência
Com custo de produção mais barato que o bagaço da cana, a energia eólica tem
o custo de R$ 2 mil por KW/h, sendo uma das mais baratas do pais.
No entanto, esse tipo de geração não é vista com bons olhos pelo especialista.
Padovani se baseia em dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que apontam 1.158 MW gerados pelo
vento prontos para serem disponibilizados, mas que ainda dependem da construção
de linhas de transmissão para fazer a conexão dos parques eólicos à rede.
Outra concorrente são as usinas termelétricas, as quais o
governo recorreu este ano para suprir o aumento da demanda energética. Em
termos ambientais e financeiros, o engenheiro afirma que o bagaço de cana,
nesse caso, também é mais vantajoso.
Padovani critica o fato de as termelétricas dependerem da queima
de gás ou óleo combustível, que são altamente poluentes, critica Padovani. “Não
temos gás no país e dependemos do mercado internacional. Hoje, a Petrobrás está
gastando US$ 10 milhões por dia com importação de gás. Essa demanda vai ter que
ser repassada para alguém”, afirma.
Planejamento
Para o engenheiro mecânico José Luz Silveira, coordenador do Laboratório de
Otimização de Sistemas Energéticos da Universidade Estadual de São Paulo
(Unesp), apesar de a energia elétrica gerada pelo resíduo da cana ser
importante no cenário brasileiro, ainda enfrenta limitações, como a falta de
linhas coletoras para interligar as usinas de açúcar ao sistema nacional.
Segundo Silveira, o projeto é difícil de ser aplicado por causa
de questões técnicas que protejam a rede de sobrecargas durante a transmissão.
“Não dá para pensar nas usinas de açúcar suprindo o Brasil. O que deve ser
feito agora é ligar as termelétricas e planejar os próximos anos. O Brasil tem
uma capacidade instalada grande, mas o uso per capita de energia é pequeno.”
A opinião é compartilhada pelo pesquisador em qualidade de
energia elétrica da Unesp, Carlos Alberto Canesin, que defende a exploração de
outras formas sustentáveis de eletricidade ainda pouco exploradas, como usinas
solares e nucleares. "No interior de São Paulo existem muitas usinas de
açúcar, então a biomassa é viável. Já no Nordeste, as eólicas são mais
aproveitáveis", afirma.
Doutor em eletrônica de potêncial, Canesin destaca que o governo
precisa se preocupar mais com a questão energética que, segundo ele, está
intimamente ligada ao desenvolvimento econômico do país. "Não podemos
sustentar o crescimento sem energia elétrica, que é a base dos investimentos. O
grande problema do Brasil não é falta de recursos, mas a falta de energia para
crescer."
Adriano OliveiraDo G1 Ribeirão e Franca
editado por
escolavirtual1
Apesar
do aumento de 0,37% no nível dos reservatórios das regiões Sudeste e
Centro-Oeste registrado pela Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) no
último final de semana e da negativa do Governo Federal sobre um risco de
apagão, especialistas do setor sucroalcooleiro afirmam que a energia elétrica
produzida através do bagaço da cana-de-açúcar poderia poupar até 5% das
represas no período mais crítico da estiagem, evitando o risco de racionamento.
O diretor da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Única),
Sérgio Prado, explica que a época da seca - entre abril e novembro - acontece
justamente no período em que as usinas de São Paulo e Minas Gerais estão moendo a cana para produzir
açúcar e etanol e, consequentemente, gerando energia elétrica através da queima
do bagaço.
“Poderíamos
economizar água no momento em que estamos processando a cana. Ninguém tem a
pretensão de achar que a energia da biomassa será dominante no país. O caso não
é esse, mas temos condições de produzir um volume considerável de
eletricidade”, diz.
Segundo dados da Unica, todas as 440 usinas do Brasil já
utilizam o recurso para abastecer as próprias unidades e não precisam comprar eletricidade de concessionárias
para funcionar. O problema é que a falta de investimento público faz com que
apenas 90 consigam vender o excedente para o sistema nacional.
“Mesmo assim, o que é vendido representa 5% do total consumido
no país. Em plena capacidade de produção, todas as usinas juntas poderiam gerar
15.300 megawatts (MW), o equivalente a pouco mais de uma Itaipu”, afirma Prado.
Mais barato
O engenheiro
eletricista Arthur Padovani, especialista em sistemas de cogeração de biomassa
pela Universidade de São Paulo (USP), afirma que a alternativa teria reflexos
positivos inclusive no preço para o consumidor final, porque os custos para geração de energia a partir do bagaço da
cana são mais competitivos. Segundo ele, um quilowatt/hora (KW/h) instalado
produzido pela biomassa custa, em média, R$ 3,5 mil. No caso da energia
hidráulica, esse valor é de R$ 7,5 mil por KW/h.
“A
cogeração tem custo bastante baixo de insumo porque, como o próprio nome diz, é
uma consequência da produção do açúcar e do etanol”, explica o engenheiro,
destacando que o tempo de implantação de uma hidrelétrica também é dez vezes
maior. “Vejamos o exemplo de Belo Monte, que
até hoje enfrenta impasses. Um sistema de uma usina de açúcar é implantado em
dois anos.”
Concorrência
Com custo de produção mais barato que o bagaço da cana, a energia eólica tem
o custo de R$ 2 mil por KW/h, sendo uma das mais baratas do pais.
No entanto, esse tipo de geração não é vista com bons olhos pelo especialista.
Padovani se baseia em dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que apontam 1.158 MW gerados pelo
vento prontos para serem disponibilizados, mas que ainda dependem da construção
de linhas de transmissão para fazer a conexão dos parques eólicos à rede.
Outra concorrente são as usinas termelétricas, as quais o
governo recorreu este ano para suprir o aumento da demanda energética. Em
termos ambientais e financeiros, o engenheiro afirma que o bagaço de cana,
nesse caso, também é mais vantajoso.
Padovani critica o fato de as termelétricas dependerem da queima
de gás ou óleo combustível, que são altamente poluentes, critica Padovani. “Não
temos gás no país e dependemos do mercado internacional. Hoje, a Petrobrás está
gastando US$ 10 milhões por dia com importação de gás. Essa demanda vai ter que
ser repassada para alguém”, afirma.
Planejamento
Para o engenheiro mecânico José Luz Silveira, coordenador do Laboratório de
Otimização de Sistemas Energéticos da Universidade Estadual de São Paulo
(Unesp), apesar de a energia elétrica gerada pelo resíduo da cana ser
importante no cenário brasileiro, ainda enfrenta limitações, como a falta de
linhas coletoras para interligar as usinas de açúcar ao sistema nacional.
Segundo Silveira, o projeto é difícil de ser aplicado por causa
de questões técnicas que protejam a rede de sobrecargas durante a transmissão.
“Não dá para pensar nas usinas de açúcar suprindo o Brasil. O que deve ser
feito agora é ligar as termelétricas e planejar os próximos anos. O Brasil tem
uma capacidade instalada grande, mas o uso per capita de energia é pequeno.”
A opinião é compartilhada pelo pesquisador em qualidade de
energia elétrica da Unesp, Carlos Alberto Canesin, que defende a exploração de
outras formas sustentáveis de eletricidade ainda pouco exploradas, como usinas
solares e nucleares. "No interior de São Paulo existem muitas usinas de
açúcar, então a biomassa é viável. Já no Nordeste, as eólicas são mais
aproveitáveis", afirma.
Doutor em eletrônica de potêncial, Canesin destaca que o governo
precisa se preocupar mais com a questão energética que, segundo ele, está
intimamente ligada ao desenvolvimento econômico do país. "Não podemos
sustentar o crescimento sem energia elétrica, que é a base dos investimentos. O
grande problema do Brasil não é falta de recursos, mas a falta de energia para
crescer."
Adriano OliveiraDo G1 Ribeirão e Franca
editado por
escolavirtual1
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