domingo, 17 de abril de 2011

Desmatamento de vegetação nativa em Sirinhaém para construção de estrada clandestina


Abertura de estrada clandestina em Sirinhaém, na Zona da Mata, a 70 quilômetros do Recife, está provocando desmatamento de vegetação nativa. A via, com cerca de um quilômetro, é paralela ao Riacho Sibiró, e corta área de Mata Atlântica e de mangue.
Pescadores do local, conhecido como Monteiro, informam que a obra começou há aproximadamente 15 dias. Ontem, havia no local três tratores, mas nenhum operário. As máquinas são uma escavadeira, uma compactadeira e uma carregadeira, usada para recolher os troncos derrubados.
A estrada termina no encontro do Riacho Sibiró com o Rio Sirinhaém, onde predomina a vegetação de mangue. Vários pés de mangue-branco, também chamado de canoé pela população local, estão tombados. No local onde a estrada está sendo construída, havia uma trilha.
A população local conta que a trilha foi alargada com as máquinas, abrindo passagem para a estrada, o que provocou a derrubada das árvores. Em seguida, os operários colocaram barro amarelo e compactaram o terreno. Atualmente, a estrada está recebendo uma camada de barro vermelho.
Para o presidente da Associação de Pescadores e Armadores de Sirinhaém, Flávio Wanderley da Silva, o aterro do manguezal e o desmatamento da floresta nativa prejudicam a pesca artesanal. “Muitas pessoas dependem da pesca por aqui. E sem o mangue não tem caranguejo, nem guaiamum, nem aratu”, diz.
A entidade conta com 216 associados, enquanto a Colônia de Pescadores de Sirinhaém tem 620 cadastrados. O manguezal do estuário do Rio Sirinhaém, entre Sinharém e Ipojuca, de acordo com diagnóstico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), é utilizado por três mil pescadores.
Flávio Wanderley lembra que o mangue e a Mata Atlântica são áreas de preservação permanente (APP). Por lei, esse tipo de cobertura vegetal apenas pode ser derrubado mediante projeto de lei encaminhado pelo governo do Estado à Assembleia Legislativa. Antes, o governador precisa decretar a obra como de interesse social ou de utilidade pública.
“Não há nenhuma placa sobre a obra. É uma estrada clandestina. Esperamos que a CPRH (Agência Pernambucana de Meio Ambiente) e o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) fiscalizem. Estamos disponíveis para ajudar no que for preciso”, adianta.
Moradores do entorno do Monteiro comunicam a existência de comporta que controla a vazão do Riacho Sibiró. “A água do Rio Sirinhaém não entra mais no riacho quando a maré sobe. A comporta também impede que os peixes se refugiem no riacho quando tem poluição no rio”, diz um pescador, que pediu para não ser identificado.
RIO SIRINHAÉM
O estuário do Rio Sirinhaém, segundo dados da CPRH, ocupa 3.335 hectares. Os afluentes são, além do Siribó, o Trapiche, Arrumador e o Riacho Duas Irmãs. A diversidade da flora inclui o mangue-vermelho, com árvores de grande porte. As espécies de peixes e crustáceos, que representam a fonte de renda para a maioria da população local, são unhas-de-velho, marisco, guaiamum, caranguejo-uçá, siri, aratu, pitu, além de arraias, saúna, agulha, camurupim, mero, pescada, xaréu, manjuba, mandim, niquim, bicuda e tilápia. 


veronica falcao


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